Nesse momento, nos deparamos com grandes desafios que exigem mudanças estruturais nas organizações. Mudar não costuma ser fácil, ainda mais quando se trata de um grande ecossistema como um país, organizações e o próprio mundo. Mas quando a transformação é acatada como uma responsabilidade e meta coletiva, seu processo e resultado são incrivelmente recompensadores e longínquos. Diante de tantas possibilidades, por onde começamos?
É possível destacar pelo menos quatro pontos que estão em colapso nesse momento: a saúde, o bem-estar psicológico e mental, o meio ambiente e a economia. Olhar de forma linear para essas questões é uma redução imatura da complexidade atual, afinal, elas são interdependentes e precisam convergir para estabelecer ações mais efetivas aos novos problemas sistêmicos que emergem. O FIB – Felicidade Interna Bruta, é um modelo de governança estratégico para desenvolver uma visão sistêmica de diversos pontos, sem a criação de uma hierarquia entre eles.
No FIB são consideradas 9 dimensões, interdependentes e coexistentes, para pensar a sociedade, sua aplicação pode ser em escalas micro, como a trajetória pessoal ou macro, como a governança de um país
O conceito de Felicidade Interna Bruta (também denominado Gross National Happiness – GNH) foi introduzido pelo 4º Rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck, em 1970. Ele valoriza aspectos tangíveis e intangíveis de bem-estar e não se opõe ao progresso material e econômico. É uma proposta de sistema inclusivo, holístico, equitativo, de desenvolvimento sustentável e equilibrado para o bem estar social, desconsiderando a ideia de buscar a prosperidade econômica como único objetivo de uma nação.
É uma proposta de sistema inclusivo, holístico, equitativo, de desenvolvimento sustentável e equilibrado para o bem estar social
Ao longo dos últimos anos, este conceito vem sendo utilizado pelo Governo Real do Butão e consta na constituição: “o Estado deve se esforçar para promover as condições que permitam a busca pela Felicidade Nacional Bruta”. A partir de 2004, o Centre for Bhutan Studies and Gross National Happiness passou a organizar conferências e seminários internacionalistas para aprimorar os estudos sobre o FIB, o que gerou interesse global e reuniu acadêmicos, formuladores de políticas e especialistas de várias partes do mundo.
Em 2010, o Butão produziu seu primeiro índice para monitorar a felicidade e fazer mudanças significativas nas operações dos órgãos governamentais a partir disso. O índice é gerado pela aplicação de questionários que consideram 9 dimensões: (1) bem-estar psicológico, (2) saúde, (3) educação, (4) uso do tempo, (5) cultura, (6) governança, (7) vitalidade comunitária, (8) meio ambiente e, (9) padrão de vida. Cada uma delas é composta por uma lista de indicadores desenvolvidos após uma série de pesquisas realizadas entre 2006 e 2008.
Para promover a felicidade nas organizações alguns pontos são necessários como: promover interações, fortalecer as trocas, valorizar os desempenhos e auxiliar na busca por um propósito em comum.
Pesquisas comprovam que pessoas felizes nas organizações:
- Demonstram maior produtividade (Carr).
- Se engajam mais (Bandura).
- Têm melhor avaliação de desempenho e melhores salários (Staw, Sutton, Pelled).
- Se mostram mais inovadoras (Isen, Snyder, Zeidner, Endler).
- Adoecem menos e vivem mais (Danner, Snowdon, Friesen).
Diante desse momento em que o mundo já não é mais o mesmo, utilizar o conceito do FIB nas organizações pode ser um ponto de partida, visto que o trabalho preenche grande parte do tempo dos brasileiros. Mas não deve parar por aí, desenvolver uma visão holística, que compreenda a convergência das necessidades humanas, deve ser assimilada também pelos governantes e colocadas em prática por meio de políticas públicas, só que isso já é assunto para um próximo texto.
Por enquanto, cuide da sua saúde, se possível, fique em casa e você estiver psicologicamente fortalecido, movimente-se com coragem em busca daquilo que realmente faz sentido para você.
