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Os Sete Desafios da Colaboração

Dentre as inúmeras mudanças que nos deparamos hoje em dia, uma das mais importantes é certamente sairmos de nosso casulo e viver o gosto e a vontade de estar com os outros, fazendo coisas juntas, nem que seja para ter a sensação que fazemos parte da mesma família ou pertencemos ao mesmo time.

A colaboração vem desse lugar, como uma ação benéfica que geralmente associamos a compartilhamento e ajuda mútua, ou a uma experiência positiva, afetiva, até mesmo idealizada. Alguns de nós imediatamente vão se lembrar da utopia e do romantismo do ‘all together’ e em como no dia a dia o mais difícil em colaborar está no próprio sistema e também além do sistema, quando miramos em nós mesmos. Afinal, o que fazer quando não nos sentimos parte e não compreendemos o porquê de estarmos juntos para fazer algo? Outros de nós também não se sentem à vontade em colaborar porque simplesmente não confiam que os outros possam cumprir com compromisso assumidos, na linha ‘do que é de todos não é de ninguém’.

Assim, ficamos mais confortáveis quando fazemos sozinhos ou podemos ter controle sobre o resultado, impulsionando pessoas a fazerem o que é certo, da forma como sentimos e experienciamos o que seja ‘o certo’. Afinal vale a pena sair da trajetória de sobrevivência construída em torno da nossa individualidade e ceder a necessidade de nos vincularmos, fazermos parte, acolher e ser acolhidos pelos outros?

“Afinal, o que fazer quando não nos sentimos parte e não compreendemos o porquê de estarmos juntos para fazer algo?”

Tenho estudado colaboração a alguns anos por absoluta necessidade de me compreender e também por buscar uma compreensão maior da colaboração como capacidade organizacional no contexto da inovação, da criatividade e do design. Desde criança tenho vivido como um pêndulo na minha caixinha de proteção e pressionado por ir ao mundo e expor ideias, testá-las, receber feedbacks e concretizar projetos que muitas vezes estão longe de estar maduros ou finalizados.

Longos anos em gestão de design fizeram com que eu me conectasse a estratégias e métodos de como criar objetos, desenvolvê-los e colocá-los em produção para depois descobrir que objetos são recortes de pessoas em conexão. Hoje o meu propósito é auxiliar pessoas a colaborar conectadas a uma auto percepção que possibilite servirem ao coletivo, passando pelo desafio de implementar de forma sustentável produtos, serviços e negócios inovadores.

A colaboração, no entanto, é sempre a última alternativa ou aplicável em situações especificas, por exemplo, quando não sabemos bem que problema é esse que estamos tentando resolver ou quando a complexidade é tamanha que a única forma de resolução é fazendo juntos. A pesquisa que venho realizando no âmbito da gestão de negócios, do conhecimento e inovação se originou em organizações tradicionais, aquelas que dividem pessoas em áreas especialistas, as organiza por hierarquia, define claramente papeis e reponsabilidades e as convida a participar de processos desenhados para que esgotem as divergências e consigam extrair da competição e da luta por resultados o melhor da inovação.

O passo seguinte dessa pesquisa foi concluído recentemente e envolveu os desafios da colaboração em ambientes inovadores, envolvendo 6 países do sudeste asiáticos. Visitei espaços de coworking, fablabs, incubadoras e aceleradoras de startups. Entrevistei empreendedores, gestores de comunidade e coworkers que contribuem para a construção de ecossistemas de inovação e também lideranças dedicadas a resolução de problemas sociais complexos.

Nessa viagem, o que mais chamou a atenção foi conhecer países que, como o nosso, sofrem de infraestrutura precária e da influência econômica de países desenvolvidos. Por outro lado, tivemos o privilégio de visitar dois países incríveis, Japão e Singapura, que se superaram e deixaram para trás a pobreza e a escassez. Fiquei surpreso com a juventude dos empreendimentos e do que move as lideranças dos movimentos de inovação colaborativa, invariavelmente ligados ao fortalecimento da nação, de seu povo e da crença que podem sim mudar para melhor a forma como as pessoas de seu país vivem e se organizam.

O Impact Hub Singapura, por exemplo, é muito mais que um coworking. É um sistema de empreendedorismo inovador pujante que reúne a raiz da mudança social com a força econômica dos investidores em negócios de risco reunidos nesse pais. Outro caso emblemático é o Hubud (www.hubud.org), em Bali, um espaço de coworking que surgiu da iniciativa de dois pais que trabalhavam em home office e que se conheceram na escola dos filhos. O Hubud se tornou referência para indivíduos que querem uma nova vida mais sustentável, espiritualizada e conectada ao fluxo de inovação em negócios.

“A colaboração é desafiadora quando líderes não estão conectados a um propósito e quando estamos investindo esforços somente para o nosso próprio benefício, sem uma conexão com a sua comunidade e seu país.”

O terceiro exemplo é o Hubba, um ecossistema empreendedor líder na Tailândia e que surgiu a partir de uma experiência significativa de um de seus fundadores que o levou a viver em uma comunidade provisória ao longo de seis meses, a partir de uma tempestade intensa na Tailândia e que mudou completamente o seu propósito de vida, do próprio sucesso e bem-estar material para ajudar os outros a realizar seus sonhos.

Outro exemplo incrível é o de Nati Sang, do Makerspace, um empreendedor de família tailandesa que abandonou sua carreira de sucesso nos EUA, viveu como monge por seis meses e retornou a sua terra natal, Tailândia, para criar uma nova perspectiva de compreensão do que o pais é capaz, do que seu povo tem como talento e de como reconectá-lo as suas raízes, a partir de sua autoconsciência e da coragem para realizar.

São muitas estórias que nos levam a pensar que a colaboração é desafiadora quando líderes não estão conectados a um propósito e quando estamos investindo esforços somente para o nosso próprio benefício, sem uma conexão com a sua comunidade e seu país.

Outro desafio da colaboração é alcançarmos a compreensão que estamos em fluxo de interdependência e em situações de poder distribuído como em coworkings, onde as vezes não está claro o que as pessoas estão fazendo juntas e onde a questão de socialização e privacidade precisa ser bem dimensionada.

O terceiro desafio é como se manter flexível, lidando de forma construtiva com as desavenças e com a necessidade de autoafirmação, mas ao mesmo tempo buscando convergência para o alcance de um resultado. O desafio está exatamente em nos prosseguir na abertura de ideias e em fluxo continuo de descarte e aprimoramento, em uma dualidade de divergência e convergência.

O quarto desafio é o de aceitarmos que quanto mais compartilharmos, mais nos beneficiamos, e quanto mais acesso a informação criamos em nós e quanto mais disponível somos para os outros, mais benefícios geraremos. E que há muitos benefícios em nos desapegarmos da ‘nossa ideia’ e deixar que se pivote, flua, misture e se dissolva.

O quinto desafio é o de confiar. Sabemos como é difícil a confiança em uma cultura como a nossa. Aliás, esse é considerado a grande entrave nas organizações que querem atuar em rede… e o Brasil é lanterninha nos índices de confiança. O desafio, no fundo, é aceitar que somos diversos e da mesma ‘aldeia’, onde o que parece estranho no outro é somente uma reação, uma ilusão de segurança que faz com que queiramos a supremacia do homogêneo, estável, sem movimento.

O sexto desafio é o do autoconhecimento que possibilita uma atuação em prol do coletivo, desenvolvendo lucidez, autodeterminação e estando pronto para um campo de criação coletivo. Aqui estamos todos inteiros 100%, em um processo de diversidade ’em relação’. Isso exige uma superação dos nossos padrões mais entranhados que nos mantem presos a culpa, a vitimização e a negatividade, nos vendo como ‘partes’, presos a dúvida, ao medo e a insegurança. Se estamos bem conosco mesmos, a confiança prévia, a doação e o servir, elementos chave da colaboração, irão emergir em nós mesmos e nos outros junto com o acolhimento e o pertencimento que sustentam a criação coletiva.

O sétimo desafio é o de, ao criarmos espaços de compartilhamento (como coworkings), nos vermos prisioneiros dos mesmos elementos que fizeram com que nos afastássemos das estruturas tradicionais, dos limites entre o que é meu e o que é do outro; da busca por preservação; da necessidade de criar seu feudo, com suas regras e diferenças visíveis e da construção de separação, ao invés da busca pelo benefício comum. O último desafio é, portanto, manter viva a crença na rede, no fluxo, que se conecta com a nossa confiança na generosidade e na abundância. Podemos assim expandir e compreender o negócio maior que todos estamos, quer seja Curitiba, quer seja o Brasil, quer seja o planeta terra.

Tendo em mente os desafios, nos tornamos a bola da vez: o que podemos fazer de concreto, de prático, localmente, para que possamos superar esses desafios e iniciar uma trajetória onde a colaboração realmente esteja presente em nossas vidas e em nossos negócios?

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